Painel  do Mundo

o blog do
MUNDO BOTONISTA

Por Luiz Oliveira (11/05/2022)

Quando a mesa é a lona.

A vida do atleta em início de carreira é muito difícil. Pela falta de bagagem, não conseguimos fazer pequenos ajustes no nosso jogo e estamos constantemente à mercê de grandes mudanças de rota. Cada variável do jogo que é mexida exige de nós a velocidade de adaptação que não temos e os excessivos testes sem sucesso nos derrubam na lona.


Imaginem o boxeador que aprende a distância do próprio soco cruzado e a cada luta vai percebendo que precisa adaptá-lo sem abrir demais o espaço para contra-ataques. Imaginaram? E onde ele percebe que não deu certo? No chão. Sem enxergar. Sem se mexer. Às vezes você faz tudo certo, mas falta. O nocaute (knockout) é essa capacidade de um lutador tirar completamente as condições de reação do outro.
 
O futebol de mesa pode não ter o contato das luvas no maxilar, mas é tão dolorido quanto.


No boxe existem duas formas bem conhecidas de treinamento. A primeira é o
sparring, que consiste na simulação de lutas com outro oponente para colocar em prática aquilo que é visto em teoria ou treinado individualmente. É como fazemos em nossos clubes: um compromisso sério entre dois atletas, com número real de “rounds” e tempo, mas com intuito de praticar algo específico. Pense que o companheiro de equipe precise testar situações de jogo contra determinada armação de defesa para treinar infiltração e finalização, por exemplo, ou que ele nunca tenha vencido um atleta e você possa simular o estilo de jogo dele para testar repertório tático e formas de marcação, prevendo um futuro confronto. Sparring é isso. 
 
Durante o ano passado optei por fazer
sparring com jogadores de altíssimo nível. Naquele momento não tive a intenção de ganhar jogos, mas sim, ampliar meu poder de observação sobre os adversários, testar meus posicionamentos de defesa, goleiro e controle de tempo. Foi um sparring diferente por conta do pouco conhecimento do outro atleta, mas valeu muito a pena. Tive resultados ótimos e fechei o dia feliz com tudo o que havia acontecido. Fui a outros 2 torneios com o mesmo intuito.


Após o primeiro momento de sucesso, entendi que as participações me preparavam para o próximo passo que seria a tentativa de ganhar alguns jogos.

*Nota importantíssima: não existe sparring em que o oponente esteja ali para perder, afinal de contas, sparring é simulação e jogo é jogo. Nunca esqueça de avisar ao seu adversário que se você quer testar como se ganha, ele precisa saber muito bem sobre o que se passa na sua cabeça. 
 

Entra no ringue o segundo treinamento: o famoso saco de pancadas. Aqui o adversário bate até cansar, apenas ele treina enquanto o saco, incapaz de qualquer tipo de reação, é massacrado. Esse treinamento dá força e vitalidade ao adversário, que sai, apaga a luz da academia deixa a simulação de oponente lá. No escuro. Sem conseguir pensar no que aconteceu. Apenas esperando a ação do tempo frear aquele movimento de balançar para frente e para trás, já que nem isso ele é dono de fazer sozinho. 


Em seguida vem o próximo. Depois outro e segue assim até o torneio acabar. Não tem análise possível sobre ser um saco de pancadas. É você ali, disponível para a sequência de socos da direita e da esquerda, jabs, diretos e ganchos. Todo mundo é Muhammad Ali, quando você ainda é o Jerry Lewis.


Seja o sparring ou o saco de pancadas, os treinamentos são importantes para moldar o atleta que você será no futuro. Claro, desde que o foco não esteja naquilo que eles têm de maior diferença. Ser parceiro de sparring é uma escolha que se faz com consciência, enquanto ser o saco de pancadas é uma condição inevitável e nocauteadora.


Luiz Oliveira é jogador de 12 toques e membro da diretoria do TMJ/SP. É designer, trabalha com tecnologia e se empolga com facilidade ao ver estratégias bem feitas e análises de dados. Palmeirense desde sempre, professor universitário durante 7 anos, baixista e dj por diversão, além de ser um eterno estudante que está sempre atrás de algo novo para se aprofundar..

....................................

luiz_oliveira@mundobotonista.com.br
(011) 98757-0035

Biblioteca de "Losers"

Reler publicações anteriores de Luiz Oliveira

Posts anteriores 
Por Jonnilson Passos 11 mai., 2024
Botão com ciência
Por Erismar Gomes 10 mai., 2024
Doze giros
Por José Carlos Cavalheiro 07 mai., 2024
É tudo botão
Por Chico Junior 01 mai., 2024
Submundo
Mostrar mais
Share by: