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MUNDO BOTONISTA
Em Algum Lugar do Passado

Por José Ricardo Almeida (02/11/2021)

As traves no futebol de mesa.

O futebol surgiu na Inglaterra. Isso ocorreu a partir da junção de clubes que não aceitavam determinadas regras da prática do rugby e decidiram unir-se para criar outro esporte, no qual não se conduzisse a bola com as mãos. As regras deste novo esporte, o futebol, foram estabelecidas em 1846 pela Universidade de Cambridge. As primeiras normas ainda estavam em um estágio extremamente embrionário e apresentavam algumas diferenças em relação ao futebol praticado atualmente.

Somente em 1865, as traves do futebol passaram a ter uma fita entre elas, para delimitar a altura do gol. O protótipo do travessão foi instituído apenas dez anos depois.


A baliza ou meta, também chamada de gol, no Brasil, ou ainda goleira, no Rio Grande do Sul, é um conjunto de traves e um travessão, por onde a bola deve entrar para que a equipe marque um ponto a favor. Assim como no futebol de campo, um gol é o ato mais importante do futebol de mesa e ocorre sempre que a bola ultrapassa por completo uma barreira imaginária entre as traves e sob o travessão, que têm medidas as mais variadas possíveis na história do futebol de mesa. A primeira referência que temos em relação a uma trave data de 1930, no já citado livro “Regras Officiaes do Foot-Ball Celotex”, de Geraldo Décourt, o primeiro impresso no Brasil. Lá está, na regra nº 2, Artigo C: “As metas serão formadas por dois postes verticais colocados sobre a linha de fundo e ligados por uma barra transversal. As medidas internas da meta são: Altura - 4 cm e Largura – 7 cm”.


Em 1945, o jornalista Fred Mello lançou o livro “Jogo de Botão, Regras e Táticas do Futebol de Mesa”, que deu origem à chamada regra “leva-leva” e se espalhou por todo o Brasil, pois passou a ser adotada nos Jogos Infantis do Rio de Janeiro, promovidos pelo Jornal dos Sports, que sempre foi acompanhado por todo torcedor de futebol e praticante do futebol de mesa pelo Brasil inteiro. Em seu Artigo 2, definia: “o goleiro deve ser uma caixa de fósforos que meça de comprimento 5 cm, de altura 3,5 cm e de largura 5,5 cm”. No Artigo 2 diz: “As traves verticais devem medir 15 cm de comprimento e 7 cm de altura”.


Em nosso gigantesco e continental Brasil, depois vieram outras regras e muitas medidas diferentes. Nossa viagem pelo Brasil começa no Rio Grande do Sul, onde em 1961 foi criada a primeira entidade organizada no futebol de mesa, a Federação Riograndense de Futebol de Mesa, responsável pela criação e divulgação da Regra Gaúcha. No Art. 6º está estabelecido: Os arcos medirão de comprimento 13 cm, altura 3 cm e profundidade 10 cm. Anos depois, no mesmo Estado, Ênio Erno Seibert lançou a Regra Brasileira Unificada – Normas Técnicas, com medidas um pouco diferentes: comprimento – 13 cm, altura - 3,5 cm e profundidade – 9 cm.


Continuando nossa viagem pelo Brasil, passando pelo Paraná, encontramos o livro de Agacir José Eggers (principal responsável pela fundação da Federação Paranaense de Futebol de Mesa, em 1963), “Normas para a prática do Futebol de Botões”. Na Seção III, Art. 10, diz: “As metas para a prática do Futebol de Botões deverão ser confeccionadas em material redondo, com 5 milímetros de diâmetro, medindo 11 centímetros e meio de largura por 5 centímetros de altura na sua parte interna, com uma armação de arame para sustentar a rede com 7 centímetros de profundidade”.


Em São Paulo, a Federação Paulista de Futebol de Mesa foi criada em 1962. Não temos conhecimento se as medidas das traves são as mesmas que hoje são utilizadas. A regra, hoje chamada de 12 Toques e uma das mais praticadas por todo o Brasil, determina as seguintes medidas para as traves: comprimento – 12,5 cm e altura - 5 cm. Também em São Paulo, mais precisamente em São José dos Campos, por pouco tempo existiu a Regra do Vale do Paraíba (oito toques). Nela foram estabelecidas medidas iguais às de 12 toques, ou seja: comprimento – 12,5 cm e altura – 5 cm.


No Rio de Janeiro, o Estado com maior número de regras praticadas, precisamos dar uma parada maior em nosso giro pelo Brasil. Além da Regra Brasileira (que daremos mais detalhes à frente), no Rio de Janeiro também se pratica, desde 1978, a regra de 3 Toques, que passou a ser chamada de carioca, por ter sido criada no Rio de Janeiro. Não sabemos se outra regra teve alguma referência em relação ao futebol de campo, mas a de 3 Toques teve. Todas as medidas, incluindo as traves, estão em escala de 1:50 em relação ao campo de futebol. Assim, as medidas das metas ficaram sendo: distância entre os postes – 146 mm e do travessão à mesa – 49 mm. Nas modalidades Dadinho e Pastilha, as traves têm as mesmas medidas, 11 cm de comprimento e 4,5 cm de altura.


Passando por Brasília, onde hoje se joga nas regras de 3, 12 Toques e no Dadinho, existiu no início dos anos 70 a Associação de Futebol de Mesa de Brasília e que tinha suas próprias medidas para as traves: 14 cm de comprimento e 5,5 cm de altura. Ao alcançar o Nordeste, chegamos na Bahia, berço da Regra Brasileira, que passou a ser chamada, popularmente, de regra baiana, hoje reconhecida oficialmente como Disco 1 Toque. Em janeiro de 1967, em Salvador (BA), quatro baianos, Adhemar Dias de Carvalho, Nelson Carvalho, Oldemar Seixas, Roberto Dartanhã e dois gaúchos, Adauto Celso Sambaquy e Gilberto Ghizi , se reuniram para a criação dessa regra, que depois espalhou-se por todo o Brasil. No seu artigo 6º estabeleceu: Os arcos (traves, metas) serão fixos e medirão de comprimento – 150 mm, Altura – 60 mm, Profundidade – 100 mm e Diâmetro – 9 mm.


Saindo da Bahia, chegamos em Alagoas, onde também se pratica a regra de 1 Toque (dentre outras), mas também existe a “Regra Alagoana”, cujas traves têm de comprimento 15 cm e de altura 6 cm. Subindo mais um pouco pelo litoral nordestino, desembarcamos em Pernambuco, outro Estado em que se pratica o futebol de mesa em várias regras, a mais antiga delas a chamada “Regra Pernambucana”, que existe desde a década de 40 e até hoje conserva as medidas de suas traves: 85 mm de comprimento por 58 mm de altura.


Logo depois de Pernambuco, vem a Paraíba e sua “Regra Paraibana”, com medidas e peculiaridades próprias. As traves medem 22 cm de comprimento e 4,5 cm de altura.


A Academia Maranhense de Futebol de Mesa existe desde 1950 e de lá para cá adotou a “Regra Maranhense”, que prevê as seguintes medidas de suas traves: 11 cm de comprimento por 6 cm de altura. Chegamos ao final de nossa viagem, no Estado do Pará, que alguns consideram o precursor do futebol de mesa no Brasil, onde está a maior trave de todas as regras. Lá, no Futebol Celotex, as traves medem 24 cm de comprimento e 6 cm de altura. Qualquer outro dia, vamos falar daqueles que foram criados para atrapalhar a marcação dos nossos gols, os goleiros.

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O baiano radicado em Brasília (DF), José Ricardo Caldas e Almeida, é adepto da modalidade 3 Toques, tendo atuado como diretor técnico e presidente da Federação Brasiliense e da CBFM 3 Toques. Sempre preocupado em arquivar a história do futebol de mesa, Zé Ricardo foi responsável pelo "K entre nós", boletim distribuído para todo o Brasil ainda na era pré-internet e, com a chegada dos computadores, passou a fazer esse mesmo tipo de trabalho em blogs e sites. Desde 2018 é o responsável pelo Museu Virtual do Futebol de Mesa (no facebook) e atualmente chefia o Núcleo de Memória e Pesquisas Históricas do Canal Mundo Botonista.

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jose_ricardo@mundobotonista.com.br
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