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MUNDO BOTONISTA
Por Márcio Bariviera (09/08/2020)

Tonico e Tinoco.

Pouco pude “aproveitar” o meu pai. Ele faleceu muito novo. Para você ter uma ideia, hoje estou na idade que ele tinha quando nos deixou e me acho um guri. Enfim, coisas da vida... Ao mesmo tempo em que pouco pude aproveitar dele, também tenho poucas lembranças. Mas uma delas vou relatar abaixo.

Seguidamente, na parte da noite, meu pai ficava na área da nossa casa sentado, fumando, tomando uma boa e velha cervejinha, e, no velho toca-fitas da Sharp, ouvia Tonico e Tinoco. Não tenho certeza, mas ele deveria ter umas 20 fitas-cassete da dupla. E lá ficava ele, muitas vezes acompanhado de minha mãe, naquele lazer simples, mas gostoso (cigarro a parte, me perdoem os fumantes de plantão).

Eu, também seguidamente, estava por ali, no chão, naquelas lajotas muitas vezes frias, fazendo companhia para ele. Não era uma companhiiiiiiia tão companhia assim, porque eu ficava me arrastando pra lá e pra cá jogando futebol de botão. Meu “estádio” era ali, nas lajotas mesmo. Somente mais adiante eu ganhei aquele campinho bonito de madeira, antes era raiz mesmo, no chão.

Eu já tinha meu time do coração. E meu pai o dele. Não defendíamos as mesmas cores. E quando eu inventava de jogar um Gre-Nal, por vezes ele desconcentrava do Tonico e do Tinoco, olhava de cima para baixo e disparava: “não vai roubar porque eu tô assistindo, hein?”.

Teve uma noite que enrolou a fita-cassete no velho Sharp. Ele até pediu um dos cabos de plástico que fixava meus goleiros, mas eu não me compadeci. Aliás, fazendo justiça, o Sharp pode ser considerado velho hoje, mas na época era luxo. Lembro de meu pai chegando em casa num final de tarde brilhando os olhos e com aquela caixa embaixo do braço. Fazendo uma comparação, era como se eu ganhasse dez times novos de botão.

Como citei lá em cima, pouco pude aproveitar de meu pai. E pouco pude aprender sobre seus ensinamentos. Menos mal que um deles, o de ser honesto, eu trouxe até hoje e pretendo levar para o resto da vida. E tudo talvez tenha começado lá, nas frias lajotas, jogando futebol de botão e ouvindo Tonico e Tinoco por tabela.

Feliz Dia dos Pais, amigos! E uma dica para cada filho: aproveite essa data para encher os braços e mãos de álcool em gel e abrace-o com força, com muita força. Algum problema entre vocês? Resolvam. O tempo passa muito rápido e só quem não tem o seu herói do lado sabe a absurda falta que ele faz.

Em tempo: meu time perdeu aquele Gre-Nal de botão. Faz parte...

O gaúcho de Rodeio Bonito, Marcio Bariviera é gerente administrativo do União Frederiquense, clube que disputa a Série A2 do Gauchão, além de assinar uma coluna semanal no jornal O Alto Uruguai, de Frederico Westphalen-RS. Rock e futebol de botão são duas paixões desde a infância (e se puder dar palhetadas ouvindo Led Zeppelin fica time completo).

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marcio_bariviera@mundobotonista.com.br
(055) 99988-6612

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