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MUNDO BOTONISTA
Planeta Dadinho

Por Alysson Cardinali (20/03/2023)

Dadinho 9x3:

Um duelo de titãs.

Aficionado por futebol de botão que se preze tem o hábito (ou seria obrigação?) de ver e rever jogões, no Youtube, entre as feras do esporte. Afinal, vale tudo para aprender e tentar evoluir nas mesas. Pois aqui vai uma dica preciosa — com direito a spoiler: o último duelo entre Ronald (Flamengo) e Paulinho Quartarone (Fluminense). Em um revival da decisão do Brasileiro de 2022, em São Paulo, os dois cracaços fizeram a final (categoria adulto) da etapa de abertura do Carioca de 2023, dia 12 de março, no ginásio do Grajaú Tênis Clube. Na verdade, não foi apenas uma mera final de campeonato, mas uma aula de futmesa, que, inclusive, extrapolou quesitos técnicos como preparação magistral de jogadas, palhetadas precisas e busca incessante pelo gol.


Além do habitual talento que Deus lhes deu, o rubro-negro, que ainda celebra o título nacional da modalidade dadinho, e o tricolor, hexacampeão carioca na categoria sênior (2012/13/14/16/17/18) e campeão da Copa do Brasil (2017), tiveram que mostrar sangue frio, equilíbrio emocional e muita força mental para superar momentos de adversidade. Paulinho precisava apenas do empate para ser campeão. Para Ronald, somente a vitória o levaria ao lugar mais alto do pódio. Início de jogo, saída do Flamengo e... gol. A vantagem inicial e inesperada tão cedo no placar (23 segundos) deixou Ronald mais confiante. Paulinho, ao que parece, acusou o golpe. Pareceu reviver o pesadelo da derrota para o rival, em outubro, no ginásio do Corinthians.


Vida (e jogo) que segue. Confortável na mesa e implacável, Ronald aperta a marcação, suporta a pressão de Paulinho e, aos três minutos, põe o dadinho novamente no filó: 2 a 0 e prenúncio, ao que parece, de uma vitória tranquila. Até porque, aos quatro minutos, mais um gol de Ronald e um resultado, digamos, anormal em um confronto marcado pelo equilíbrio entre dois botonistas de ponta no cenário nacional. As feições mudam na mesa. Ronald, concentrado. Paulinho, acelerado, jogando rápido, focado e disposto a diminuir o prejuízo. Aos seis minutos, enfim, o tricolor desconta o placar. Certeza de um segundo tempo de arrepiar.   


O script é cumprido à risca. Logo aos 17 segundos, na saída de bola, Paulinho faz seu segundo gol e encosta no placar. Adrenalina máxima, tensão total. Os deuses do futebol de botão, com seus designíos, teriam decidido mudar a sorte dos dois homens que duelam em uma batalha particular? Eles contra eles próprios, com suas angústias, seus medos, sua ansiedade. Ronald reinicia o jogo e, tal qual um matador, volta a balançar a rede, aos 48 segundos: 4 a 2 e um respiro de alívio diante de um adversário incrédulo, mas não atônito, nem abatido. O tricolor não se entrega, se nega a jogar a toalha. Segue na luta. E, aos dois minutos, é recompensado. Faz o terceiro gol e entra de vez na busca pela taça. Precisa de apenas um gol para igualar o placar e ser campeão.


O relógio é implacável. Ainda faltam cinco intermináveis minutos para se saber quem irá sorrir de alegria — ou seria alívio? Embora vendo sua vantagem se esfarelar, Ronald não acusa o golpe, demonstra segurança e, na saída de bola, volta a abrir frente, ainda aos dois minutos. Com 5 a 3 no placar, parece que o troféu de campeão irá para a Gávea. Certeza, porém, que se desfaz quando Paulinho, aos quatro minutos, mostra que ainda está vivo na mesa. Em sua jogada padrão, perto da área, finaliza com precisão e... bingo! No melhor estilo “final não se joga, se ganha”, o tricolor volta a encostar no marcador e a vislumbrar a tão desejada (e difícil) conquista: 5 a 4, nove gols em uma final de sonho (ou pesadelo, dependendo do ponto de vista). 


Decidido, Paulinho parte com tudo para o ataque em busca da jogada fatal, do gol, de um empate heroico. Mas para no goleiro. Ronald, porém, com a frieza que o caracteriza, respira fundo, se concentra e cria mais uma boa chance de marcar, aos seis minutos. Sabe que tem a bola (dadinho) do jogo. Se falhar, pode deixar a taça escapar. Mas ele não hesita. Em uma bela jogada, sem marcação, manda o dadinho entre o arqueiro e a trave, faz 6 a 4 e parece congelar o momento.


A glória está perto. Paulinho, incansável, segue em sua vã missão de encostar novamente no placar. Mas não volta a celebrar um gol. O dia era de Ronald, o dia era do Flamengo, que, no detalhe, na precisão dos chutes, voltou a ser campeão. Um jogaço, um drama que nada teve de ficção. Um filme digno de Oscar. Imperdível. Que vale a pena ver de novo. Os amigos podem ver a partida alvo desta crônica na íntegra no canal do Youtube da Fefumerj. Deixo aqui o link para quem quiser rever. Não deixem de conferir.

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Nascido em Nova Friburgo (RJ), mas morando há 30 anos na cidade do Rio de Janeiro, o jornalista esportivo Alysson Cardinali, com passagens pelos jornais O Fluminense, Jornal dos Sports, O Dia e Expresso (Infoglobo), revistas Placar e Invicto, além do canal SporTV, é um apaixonado não só pela profissão, mas pelo futebol de botão. Praticante da modalidade dadinho, Alysson, de 51 anos, é atleta federado, pelo Fluminense Football Club, na Federação de Futebol de Mesa do Rio de Janeiro (Fefumerj) e, além de disputar as competições oficiais pelo Brasil, pretende divulgar o esporte e angariar cada vez mais praticantes para perpetuar o futebol de botão entre as futuras gerações.
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cardinali@mundobotonista.com.br



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