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MUNDO BOTONISTA

Por Gustavo Martorelli (06/10/2025)

Êxodo

Embora eu seja pastor, não é sobre a saída miraculosa do povo hebreu do Egito em direção a Canaã pelo Mar Vermelho que quero falar hoje. É a respeito de um êxodo contemporâneo e regional – sobre a ida de botonistas de times menores para times de camisa. Vale o costumeiro disclaimer de que minha ideia não é criticar, ofender ou chatear algum amigo. É somente levantar uma questão para reflexão. Também não acho certo ou errado a ida para qualquer lugar para onde cada um deseja; é questão pessoal e cada qual tem seus motivos e convicções. Também não sei como esse êxodo se dá em outros estados. Sou de São Paulo e, por aqui, aconteceu e acontece com bastante frequência, mas acho que os princípios aqui levantados podem ser relevantes para qualquer decisão sobre onde jogar ou se é hora de mudar de time ou não. Enfim, espero que a reflexão seja proveitosa. 

É completamente fundamental e benéfico para o futebol de mesa a presença de times grandes, conhecidos nacional e até internacionalmente. Traz gabarito para o esporte, relevância e mostra que não somos um bando de malucos desacreditados. Os times grandes trazem um peso imprescindível ao futebol de mesa. Jogam botão os grandes: Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Santos, Ituano, São Bento - Sorocaba/SP, Rio Branco - Americana/SP, Vasco da Gama, Botafogo, Flamengo, Fluminense, America/RJ, Friburguense, Internacional/RS, Sport Recife, Náutico, Santa Cruz, Londrina/PR, Figueirense/SC, entre outros que devo ter esquecido. Não é pouca coisa! É muita coisa! Nosso esporte é muito grande e reconhecido, e isso é excelente. 

Entretanto, nosso esporte também é feito dentro de clubes que não têm camisa (ou fama, para ser bem claro). Agremiações que fazem um trabalho maravilhoso e que, dentro do nosso meio, são tão conhecidas e valorizadas como os grandes clubes. Não estou dizendo que as equipes grandes têm a vida fácil, que sabemos que não é verdade. Apenas levando o foco da luz para outro lugar – os menores. O botonista sonha em defender seu time de coração ou qualquer outra motivação legítima é sempre válida, mas como ficam os plantéis dos times menores? Vejo que alguns clubes acabam agonizando ou até fechando as portas em decorrência dessa movimentação. Eu mesmo já joguei em time grande e não estou dizendo que ninguém deve ir, não me entendam mal. Porém, eu gostaria de propor que as reflexões precisam ser um pouco mais altruístas, pensando nos grupos e até, em algum efeito, no impacto que isso causa no esporte. É muito triste quando um clube fecha ou deixa de jogar os campeonatos por equipes, por falta de plantel. Vemos muitos times grandes com elencos superinchados, em que não há espaço para todos, mas se insiste em permanecer somente para fazer parte do clube grande e famoso.

Usando uma ilustração distante, talvez o único motivo seja para dizer que joga botão no Real Madrid e não no time do "Zezito da esquina torta", se é que me entendem. Traz uma sensação de status à qual alguns se apegam.  Cada um é livre para jogar onde quiser, mas vale repetir que uma movimentação errada pode atrapalhar muito mais do que se imagina e a reconstrução será muito dolorosa ou até impossível.

Algumas questões para a reflexão final:

— Vale você vestir a camisa de um grande mesmo sem ter espaço e acabar sendo subutilizado?

— Será que a CBFM ou as federações poderiam (ou deveriam) limitar a quantidade de atletas por categoria em cada equipe?

— Você prefere estar entre amigos em um clube pequeno ou ir se aventurar em um grande, onde não conhece as pessoas tão bem?

— Não vale você estar em um lugar onde possa ser útil para ajudar a desenvolver o departamento ou até tentar viver uma conquista inédita/improvável?

Eu sei que um possível convite de uma equipe de expressão pode mexer com nosso ego e nos fazer decidir somente com a emoção – e acho decidir com a emoção um risco considerável. Se fizer realmente sentido para você uma possibilidade assim, vá e aproveite. A decisão é sua, mas as consequências podem ser para o esporte.

Biblioteca de "Jogo de cavalheiros"
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Gustavo Martorelli

Gustavo Martorelli, conhecido como Guga, nascido em São Caetano do Sul (SP), é federado desde os 12 anos quando oficializou uma tradição de família. Hoje é empresário em Campinas e formado em Direito e Teologia. Passou por ABREVB, São Judas, Meninos FC e Palmeiras. Voltou a defender o Meninos FC em 2023. Morou em diversos países como África do Sul, Senegal, Gâmbia e Jordânia, trabalhando com desenvolvimento humanitário e, além do arroz e feijão, do que mais sentiu falta foi de jogar botão.

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guga@mundobotonista.com.br
(019) 99650-5605

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