Painel do Mundo
Por Hélder Rafael (12/07/2025)
Bolívia implanta o futebol de mesa com ajuda do Brasil
Conheça a história de um boliviano apaixonado pelo nosso esporte que contou com a ajuda de um brasileiro para introduzir o futebol de mesa em Cochabamba.

"Estou escrevendo desde a Bolivia. Gostaría de comprar quatro mesas de futebol de botão, 12 times completos, oito traves, bolinhas e dadinhos. ¿Tem onde comprar tudo isso en Campo Grande?"
Era uma tarde qualquer de maio quando recebi essa mensagem no celular, de um número estrangeiro fora da minha lista de contatos. Em tempos de spam e golpes virtuais cada vez mais frequentes, a reação esperada seria bloquear o remetente. Mas um pedido tão certeiro me deixou curioso, então dei sequência à conversa.
Quem me procurava era Juan Carlos Lobo, um boliviano que tinha morado no Brasil na infância e conhecia o futebol de mesa. Ele contou que vivia em Cochabamba, estava abrindo um espaço com mesas de bilhar e queria introduzir o jogo de botão na cidade. Como não havia onde comprar materiais em seu país, pensou nos lugares mais próximos no Brasil onde pudesse encontrar. Fiquei muito feliz pela iniciativa do Juan Carlos e prontamente comecei a ajudá-lo na tarefa de enviar mesas e botões do Brasil para a Bolívia. Cochabamba é relativamente próxima a Campo Grande: 1.500 km por via terrestre. É quase a distância entre a capital sul-mato-grossense e o Rio de Janeiro (1.400 km).
Juan Carlos enviou o dinheiro e comprei as mesas de tamanho juvenil e todos os acessórios necessários. A ideia inicial era que o amigo boliviano buscasse a encomenda em Campo Grande. No entanto, a instabilidade política e a crise no fornecimento de combustíveis no país vizinho prejudicaram o plano. Então, a encomenda foi enviada até Corumbá, cidade sul-mato-grossense que faz fronteira com a Bolívia, e de lá seguiu viagem por transportadora até Cochabamba. Além do apoio logístico, forneci orientação técnica a respeito das principais regras oficiais e coloquei a Federação à disposição para tirar dúvidas e auxiliá-lo na difusão do futebol de mesa em solo boliviano.
No último dia 25 de junho, Juan Carlos inaugurou o "Billar Tiquitaca", com várias mesas de sinuca e as quatro mesas de futebol de mesa, para toda a comunidade local poder desfrutar. Ele destacou que muitos brasileiros vivem em Cochabamba e podem se interessar na prática do esporte, e também reforçou o convite para que os bolivianos descubram essa novidade.

"Vivi no Brasil entre 1975 e 1980, e nessa época conheci o futebol de botão, algo que me encantou. Então, pensei: 'Por que não introduzir o esporte aqui na Bolívia?' Acredito que este seja o primeiro lugar na Bolívia que oferece o futebol de mesa de forma aberta para o público", disse Juan Carlos, no dia da inauguração.
A história de Juan Carlos é um exemplo a ser seguido. Sua paixão pelo futebol de mesa derrubou obstáculos e venceu distâncias que pareciam impossíveis. Se hoje nosso esporte chega mais longe e está ao alcance de mais pessoas, é graças à dedicação e ao empenho de apaixonados pelo jogo de botão como ele.
Esse breve capítulo me enche de orgulho e faz uma conexão direta com minha trajetória no futebol de mesa nacional. Eu, que conheci o jogo na infância, em Porto Alegre, fui um dos pioneiros no esporte em Mato Grosso do Sul, em 2012. Antes disso, havia apenas iniciativas esparsas e pessoas que conheciam ou praticavam o jogo de forma isolada. Com a fundação da Federação, da qual tive o privilégio de ser o primeiro presidente, começamos a difundir as regras oficiais e a realizar campeonatos regularmente.
Ao olharmos para trás nesses 13 anos de caminhada, vemos que mais de 100 praticantes já passaram por algum torneio oficial no Estado. Temos realizado juntos coisas grandiosas para o esporte, tanto para nossos contemporâneos como para as gerações futuras. Hoje, estamos plantando sementes de um futuro cada vez mais brilhante para o futebol de mesa local e nacional.
Pensando nos nossos irmãos bolivianos, quem sabe daqui a alguns anos eles estejam tão ou mais evoluídos do que nós no jogo de botão? Espero um dia poder visitar Cochabamba, confraternizar com o amigo Juan Carlos e jogar algumas partidas com a nova turma. No fim das contas, isso faz parte da essência do futebol de mesa: um esporte que cria laços de amizade e atravessa fronteiras.
Hélder Rafael é presidente da Federação de Futebol de Mesa de Mato Grosso do Sul (gestão 2024-2027). Nascido em Porto Alegre (RS) e radicado em Mato Grosso do Sul desde 2005, onde trabalha como jornalista. Como atleta da regra Dadinho, conquistou títulos em nível estadual e disputou torneios nacionais.
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