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MUNDO BOTONISTA

Por Márcio Bariviera (08/08/2021)

O legado.

 – E então, querido, decidiu que presente você quer ganhar de Dia dos Pais?

– Sim, meu bem. Jogar o tradicional torneio de botão aqui em casa com o nosso filho.

– Ah, isso eu já sei. Falo de um presente de verdade.

– Mas esse é um presente de verdade. Um presentão, diga-se de passagem.

– Admiro você. Campeão brasileiro da modalidade, referência nacional, e preocupado em jogar com nosso filho. E perder, que eu sei, porque você sempre deixa ele vencer.

– Estratégia...

– Por que “estratégia”?

– Deixar um legado...

– Acho que esse legado já está garantido. Sete anos de idade e ele não desgruda dos seus times.

– Isso me orgulha muito. E não tem preço, pode ter certeza.

– Já notei que isso mexe muito com você.

– E como mexe, querida... Cada vez que jogo com ele lembro de tudo o que a gente vivia na infância. As partidas memoráveis com meus amigos, fosse na varanda, no primeiro campo de madeira, no chão do quarto antes de dormir...

– Que bacana.

– A gente só saía de casa depois das 15 horas. Antes fazíamos os temas da aula da manhã e jogávamos muito botão. Misturávamos o futebol de botão com os jogos de bola nos campinhos, subíamos nos pés de bergamotas e chegávamos em casa numa sujeira imensa. E de noite mais futebol de botão. Era uma rotina deliciosa que até hoje lembro do sabor.

– Nossa, que incrível!

– Os times da época eram muito simples, mas tinham um valor imensurável. A gente cuidava de cada botão como um pai cuida de um filho. Todos eram importantes.

Naquele momento o filho entra na sala.

– E aí, pai? Tudo pronto para o nosso torneio?

– Claro, filho. A mesa já está prontinha.

– Que ótimo! Já aviso que o tabu será mantido, hein?

– Veremos... Veremos.

O filho sai da sala e a conversa entre o casal continua.

– Vai lá, amor. Vai jogar com ele. Mas antes, me diga: por que o “veremos”?

– Para que ele fique ligado e não crie salto alto. Vai ser bom para ele.

– Certo, querido. Boa derrota, então.

– Obrigado.

– Ah, e o presente de Dia dos Pais? Não vai escolher?

– Pra que outro presente se já tenho o maior de todos?

– Qual?

– O legado...


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O gaúcho de Rodeio Bonito, Marcio Bariviera é gerente administrativo do União Frederiquense, clube que disputa a Série A2 do Gauchão, além de assinar uma coluna semanal no jornal O Alto Uruguai, de Frederico Westphalen-RS. Rock e futebol de botão são duas paixões desde a infância (e se puder dar palhetadas ouvindo Led Zeppelin fica time completo).

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marcio_bariviera@mundobotonista.com.br
(055) 99988-6612

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