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MUNDO BOTONISTA

Por Márcio Bariviera (22/08/2021)

O dia em que a Terra parou.


Ele detestava as terças-feiras. Segundo sua análise, era um dia que não precisava existir. Sempre defendeu a tese de que Deus poderia ter se poupado e deixado a terça-feira fora de sua agenda de trabalho.


A segunda-feira ele até curtia. Tinha as histórias do final de semana, as fofocas, as novidades, os comentários de futebol… A quarta era leve, à noite teria namoro para uns, futebol na TV para outros, as duas coisas juntas para vários.


A quinta-feira já dava um ar de “findi”. A sexta, então, nem havia necessidade de comentar algo e, logo em seguida, o final de semana já estaria ali, batendo à porta. Mas e a terça?


A terça-feira sempre foi morna. Não tinha nada: nem fofoca, nem novidades, o “findi” ainda estava longe, até a programação de TV era ruim. Foi então que decidiu chamar os três amigos de futebol de mesa para fazerem uma espécie de clubinho e, assim, preencher o vazio da sempre vazia terça-feira.


Os amigos prontamente aceitaram. Além de colegas de trabalho, tinham uma banda de rock para passar o tempo. Aliás, ele nunca sugeriu ensaios da banda nas terças porque nem a banda e nem o rock mereciam uma terça.


A primeira noite foi muito bacana: noite de lua cheia, temperatura agradável de primavera, churrasquinho e um rockzinho ao fundo para acompanhar o ambiente que estava espetacular.


Decidiram fazer um quadrangular em jogos não muito demorados. Quem somasse mais pontos seria o campeão da noite. Teriam uma liga com ranking que seria semanalmente atualizado. A ideia vingou e finalmente a terça-feira começava a ter sentido em sua vida.


Não deu muita sorte na primeira noite da recém criada liga. Ficou em último, três derrotas. Colocou a culpa na terça-feira. “Ela não vai com a minha cara”, sempre dizia isso. Naquela noite, ainda mais.


Fim de papo, os amigos foram embora e ao menos a terça-feira ficou menos chata. Ao desligar o som, notou que tocava Raul, “O dia em que a Terra parou”. Pensou que ela poderia parar mesmo, ao menos nas terças. E que Deus, em sua tese de sempre, deveria ter descansado não apenas no sétimo dia, mas quando criou a terça-feira, também.

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O gaúcho de Rodeio Bonito, Marcio Bariviera é gerente administrativo do União Frederiquense, clube que disputa a Série A2 do Gauchão, além de assinar uma coluna semanal no jornal O Alto Uruguai, de Frederico Westphalen-RS. Rock e futebol de botão são duas paixões desde a infância (e se puder dar palhetadas ouvindo Led Zeppelin fica time completo).

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marcio_bariviera@mundobotonista.com.br
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