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MUNDO BOTONISTA
Planeta Dadinho

Por Alysson Cardinali (18/04/2023)

Paixões indissociáveis.

Dizem que todo botão tem alma. Se realmente a tem, não sei, mas é fato que ele ressuscita, nas mesas, o talento, a magia, a picardia, a malícia e a exuberância de muitos craques que brilharam no futebol de campo. Nada mais emocionante e prazeroso do que recriar escretes clássicos na vã tentativa de corrigir injustiças históricas perpetradas nos gramados.

Que tal reviver o Brasil x Itália da Copa do Mundo de 1982 e reescrever os fatos, através de palhetadas certeiras, levando a seleção canarinho à redentora vitória que não veio diante do carrasco Paolo Rossi, em pleno Estádio Sarriá, na Espanha? Ou, emoção pura, resgatar a genialidade de Pelé, Maradona, Garrincha, Cruyff, Cristiano Ronaldo e Messi, entre outros. Que responsa!


Uma doce e agradável responsa. Acredito que dez entre dez botonistas tenham começado a praticar o futebol de mesa devido à paixão nutrida pelo famoso esporte bretão e à idolatria a seus craques preferidos. Poder transportar essa aura dos imortais deuses de chuteiras para as mesas é motivo de alegria e inspiração. Não vi a seleção brasileira de 70 faturar o tricampeonato, mas pude sentir a emoção de comandar os ídolos daquele esquadrão que fez história e se eternizou como o maior de todos os tempos. Nas mesas, muito por culpa minha, a história foi um pouco diferente. Mas isso é papo para outra hora.


Sou mais feliz e vencedor jogando com outra seleção de futebol que me encheu os olhos. Tinha lá pelos meus 15 anos quando assisti, pela TV, o hermano Don Diego levar a Argentina ao bicampeonato mundial, no México. Cresci, fascinado, com a arte de “D10S”, a segurança de Pumpido e Ruggeri, a elegância de Valdano, a eficiência de Brown e Burruchaga. 

Anos depois, quando o futebol de botão voltou a fazer parte de meus dias, encomendei a Albiceleste de 1986 e realizei um sonho: comandar aquela aguerrida seleção e conquistar alguns títulos importantes em minha trajetória nas mesas de botão. 


Sim, sou fã do futebol argentino e “hincha” declarado do River Plate. Nada que abale o meu amor eterno pelo clube tantas vezes campeão. Embora Tricolor de coração, não resisti a ir às mesas com Alzamendi, Funes, Gordillo, Alonso, Gallego & Cia. Encomendei o River Plate campeão mundial interclubes de 1986, que bateu o Dinamo Bucaresti, da România, em Tóquio. Para meu deleite, o time ficou lindo e também vem me dando bons resultados. Aliás, tenho seis times do River Plate, todos inspirados em grandes formações do clube, com as presenças do imortal Príncipe Francescoli, de Gallardo, de Crespo, de Ortega, de Sorin...

 

O Fluminense, obviamente, não poderia ficar fora da lista de equipes que defendo no futebol de mesa, inclusive em etapas oficiais do Estadual promovido pela Fefumerj. A formação campeã brasileira de 1984, após bater um forte Vasco na final, também faz parte de meu imaginário como torcedor. Obviamente, me dei o direito — e o prazer — de tê-lo na minha coleção. É especial comandar Romerito, Assis, Washington, Deley e Tato, sempre bem protegidos por Paulo Victor, Branco, Duílio, Aldo e Ricardo Gomes, em busca de vitórias. O de uniforme branco, aliás, é fidelíssimo ao usado pelo time de futebol na vitória por 1 a 0 sobre o Cruzmaltino e um dos mais belos que tenho.


O Brasil tetracampeão mundial também está no meu querido acervo. Confesso que palhetar Romário, Bebeto, Dunga e demais campeões dá uma certa nostalgia e reforça o peso daquela seleção, embora os catedráticos insistam em dizer que foi o título mundial menos bonito da Amarelinha. Outra seleção que me fascinou na Copa dos Estados Unidos, em 1994, foi a Bulgária. Não bastasse a beleza de seu uniforme, a magia de Stoichkov, o oportunismo de Letchkov, Kostadinov e Balakov, além da frieza de Mikhailov ou da experiência de Ivanov, me levaram a jogar com este escrete. Confesso que me surpreendi com os resultados positivos, mesmo usando uma equipe de pouca tradição. 


O que dizer, porém, da Roma de 1984 comandada por Paulo Roberto Falcão. Sem falsa modéstia, esse é o time que me deu meus principais títulos nas mesas, belos troféus que guardo com carinho. Nomes como Di Bartolomei, Pruzzo, Graziani, Toninho Cerezo, Bruno Conti e Tancredi me enchem de alegria e orgulho. Pena que, no futebol de campo, os Giallorossi, embora campeões do Calcio em 1983, tenham perdido a final da Copa dos Campeões (hoje Champions League), para o Liverpool, nos pênaltis, em pleno estádio Olímpico. Nada que abale a minha admiração pela squadra italiana.


De olho no futuro — nem só de nostalgia vive o futebol de mesa e suas equipes icônicas —, já estou pensando em encomendar a Argentina campeã mundial no Catar-2022. Afinal, embora, na minha humilde opinião, Maradona seja único, Messi já faz por merecer boas palhetadas. Será um prazer mandar o dadinho para o filó em cobranças de falta do camisa 10 ou fazer jogadas em velocidade com Dí Maria, gols com J. Álvarez, tirar onda com o maluco e bom goleiro Martínez. Pensando bem, acho até que botão realmente tenha alma. Alma de quem nasceu para brilhar nos campos e nas mesas. Eternamene.


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Nascido em Nova Friburgo (RJ), mas morando há 30 anos na cidade do Rio de Janeiro, o jornalista esportivo Alysson Cardinali, com passagens pelos jornais O Fluminense, Jornal dos Sports, O Dia e Expresso (Infoglobo), revistas Placar e Invicto, além do canal SporTV, é um apaixonado não só pela profissão, mas pelo futebol de botão. Praticante da modalidade dadinho, Alysson, de 51 anos, é atleta federado, pelo Fluminense Football Club, na Federação de Futebol de Mesa do Rio de Janeiro (Fefumerj) e, além de disputar as competições oficiais pelo Brasil, pretende divulgar o esporte e angariar cada vez mais praticantes para perpetuar o futebol de botão entre as futuras gerações.

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cardinali@mundobotonista.com.br

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