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Por Márcio Bariviera (12/10/2025)

Especial Dia as Crianças:

Todo dia era Dia das Crianças

Era uma vez um campo de futebol, cercado por traves de plástico, onde a alegria reinava soberana. Ganhar ou perder fazia parte do contexto, mas a gente era mais feliz do que triste. E não importava qual era o time do dia, podendo ser novíssimo em folha ou aquele de acrílico repaginado com os escudinhos da Placar. Real Madrid ou Olaria? Tanto fazia.

Era um tempo doce; o futebol não era televisionado em High Definition (HD), mas, sim, nas cores vivas da nossa imaginação. A cada partida, novas memórias eram escritas. A gente era multifunções: jogador, treinador, narrador, comentarista, repórter e até mesmo o cara do plantão que ficava no estúdio na nossa rádio imaginária. Regra, mesmo, só havia uma: se divertir.

O adversário não era rival, mas um companheiro de jornada, um colega de escola que talvez também não curtisse Biologia. Nada contra a Biologia, poderia ser Literatura ou a extinta Organização Social e Política do Brasil (OSPB), embora deva confessar que nunca consegui entender a diferença entre fenótipo e genótipo. O apito final não significava o fim da partida, mas o começo de uma nova, até porque nossos jogadores não cansavam e somente se lesionavam caso algum joelho humano aniquilasse a carreira do dito cujo.

O dia passava rápido demais. Assim como é hoje, porém sem a turbulência adulta. E o mais bacana é que, à noite, a gente treinava no chão da sala com a inocência de não se dar conta de que os jogos do dia seguinte seriam no campo do vizinho, que nada tinha a ver com o assoalho de algumas falhas, porém lustroso de nosso lar. Mas isso não importava, já que naquela época os melhores estádios do Brasil também tinham seus gramados imperfeitos e os nossos craques jogavam em qualquer lugar.

Era um tempo de pureza, de inocência, em que a tecnologia não invadia o espaço da brincadeira. Aliás, se comparássemos com a tecnologia, nosso cérebro era o computador, as mãos e os dedos viravam joysticks e o coração era nosso motor. Os times eram compostos por heróis anônimos, que nunca pisariam em um campo de grama, mas que, naquelas tardes, eram os maiores ídolos do mundo.

A magia daquele tempo estava nas coisas mais simples, na capacidade de transformar o nada em tudo, de dar vida a objetos inanimados. Não havia redes sociais para compartilhar a vitória, mas os olhos brilhavam com a emoção de quem viveu algo grandioso. A memória desses dias até hoje é uma espécie de calor no peito, um abraço que nos conforta e nos lembra de quem fomos – e somos.

Hoje os jogos são virtuais, os times são de mentira e as narrativas são construídas por algoritmos. Mas a memória daqueles dias de glória permanece viva, dias inesquecíveis em que a emoção era real e as amizades eram mais fortes que qualquer troféu. O Dia das Crianças é a oportunidade perfeita para voltar no tempo, para lembrar que a verdadeira riqueza da vida está nas coisas simples, nas pequenas alegrias e na magia de ser criança.

A parte boa, talvez excelente: o mundo lá fora nunca era a nossa prioridade. O mundo de verdade estava no arrastar de joelhos e cotovelos ao chão. A gente não se importava com a invasão de um país no território do outro; bomba era apenas um canhão do Roberto Dinamite de plástico e corrupção só acontecia quando roubávamos um punhado de pipoca da bacia que ficava ao lado do campo.

E o Dia das Crianças? Essa data era tão mágica que todo dia parecia ser Dia das Crianças, resquícios que ficam até hoje impregnados em nossas peles, já que a nostalgia do passado faz parte de nosso presente e no legado que podemos deixar para o futuro. 

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Marcio Bariviera

O gaúcho de Rodeio Bonito, Marcio Bariviera é gerente administrativo do União Frederiquense, clube que disputa a Série A2 do Gauchão, além de assinar uma coluna semanal no jornal O Alto Uruguai, de Frederico Westphalen-RS. Rock e futebol de botão são duas paixões desde a infância (e se puder dar palhetadas ouvindo Led Zeppelin fica time completo).

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marcio_bariviera@mundobotonista.com.br
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