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MUNDO BOTONISTA
Planeta Dadinho

Por Alysson Cardinali (10/10/2025)

Não jogo pela minha paixão clubística

Admito e confesso: sim, sou um fiel adepto da sagrada resenha pós-campeonatos (oficiais ou não), regada àquela cervejinha gelada, alguns petiscos e muita prosa. Afinal, dependendo do resultado, podemos beber para celebrar uma grande conquista ou para tentar esquecer aquele desempenho pífio no dia em que nada deu certo. Mas os ‘papos cabeça’ com os amigos botonistas nas mesas – do bar, do boteco ou qualquer pocilga – têm muitas outras benesses além do mero encontro etílico. Afinal, em meio à descontração e às risadas, podem surgir temas interessantes, polêmicos (intrigantes até), com debates acalorados sobre o nosso esporte.

Pois foi durante um desses agradáveis encontros que surgiu a pergunta: até onde vai a nossa paixão clubística na hora de se praticar o futebol de mesa? Isso, assim mesmo, na lata! Curta e grossa! Sem direito a Engov em meio ao pileque ou durante a ressaca. Uma indagação pertinente no animado ambiente. A questão até rebateu a onda causada pela ‘loira gelada’. Afinal, toda e qualquer paixão é coisa séria! Seja pela mulher amada ou pela camisa sagrada do nosso time do coração! É algo que não se responde de sopetão! Muito menos com um palavrão!

Noves fora a rima (muito) pobre, o tema levantado contagiou a turma – independentemente do estado alcóolico dos presentes. Com futebol (de mesa ou de campo) não se brinca! Logo vieram as réplicas e tréplicas. Seria possível um torcedor do Flamengo vestir a camisa do arquirrival Vasco em uma etapa oficial da Fefumerj? Ou um corintiano defender o Palmeiras, o São Paulo? Só em âmbito estadual? Não. Também em nível nacional, como, por exemplo, no Brasileiro Interclubes de Equipes, realizado em agosto, em Juiz de Fora, e conquistado pelo meu (ops!) querido Fluminense.

Sim, amigos e amigas, sou Tricolor de Coração! Torço para o time tantas vezes campeão! Mas na arquibancada ou pela TV! É fato que tive a honra de jogar pelo Fluminense como botonista – assim como de vestir o Manto Esmeraldino da Lafume (sem ligação com o querido esporte bretão) e a tradicional e imaculada camisa do São Cristóvão. Hoje, porém, sou um atleta federado pelo Vasco da Gama. E, sim, defendo o Gigante da Colina com o mesmo compromisso, seriedade e dedicação de quando fui filiado a todos os demais clubes que representei nas mesas.

 Mas, no futebol de campo, sou Flu-mi-nen-se! Choque de interesses? A meu ver, nenhum. Respeito as posições contrárias, mas, na minha humilde opinião, sim, é possível ver um rubro-negro de carteirinha pegar a palheta e jogar pelo Botafogo, pelo America, pelo Vasco, pelo São Paulo ou qualquer outro clube. Obviamente, é uma questão muito pessoal, mas que atire a primeira pedra quem nunca admitiu ou ficou tentado com tal possibilidade? As razões para tal gesto são as mais variadas e, com certeza, respeitáveis: o ambiente, a estrutura do clube, as amizades ou simplesmente a curiosidade de viver uma nova experiência.

É inegável que tal vivência possa provocar situações inusitadas. Só que onde estaria a graça se tudo na vida fosse certinho, como dois + dois = quatro? Tenho um amigo querido, companheiro das tais resenhas etílicas, tricolor fanático, mas que joga futebol de mesa pelo Flamengo porque o clube é forte e ele está sempre nos pódios. Só que o referido craque, durante as competições, acredite, usa um time do... Fluminense. Sim, isso mesmo! Pode parecer um contrassenso, mas como se entender as razões do coração? Aliás, já vi e ouvi muito tricolor dizer que jamais vestiria a camisa de um clube grande do futmesa carioca e, na temporada seguinte, lá estava o bonitão envergando o manto do... Botafogo. Feliz e cheio de gana na busca pelo caneco, diga-se de passagem. Estão errados em suas escolhas? Não creio.

No meu caso, longe de ‘mudar de time’ – reafirmo que sou torcedor do clube que fascina pela sua disciplina e me domina – optei por colocar a Cruz de Malta no peito, nas mesas de botão, por razões, digamos, quase profissionais. Explico: nos meus tempos de repórter esportivo em jornal, vivi algumas experiências interessantes. Uma delas foi ‘cobrir’ o Cruzmaltino nos anos de 1997 e 1998, quando Juninho, Mauro Galvão, Edmundo, Donizete & cia. foram campeões do Brasileiro e da Libertadores. A convivência com aquela galera nota dez, em treinos e jogos, o fato de estar quase todos os dias em São Januário... Impossível não se apegar (respeitada, obviamente, a devida imparcialidade que o ofício exigia e exige). 

Nada contra o Flamengo, o Botafogo, o America e tantos outros clubes nos quais também escrevi muitas matérias, entrevistei craques, fiz coberturas de títulos (Fluminense, no Carioca de 1995, e Botafogo, no Brasileiro do mesmo ano, por exemplo). Em 2025, porém, o futebol de mesa, felizmente, foi um elo que me fez regressar à Colina. Agora, para viver bons momentos com outros craques, feras em botar o dadinho no filó – e não vou citar nomes para não cometer injustiças. Os amigos que lá estão também tiveram papel importante nessa minha escolha por gritar ‘Casaca”, após cada competição, mesmo com o coração batendo nas cores verde, grená e branca.

Dito isso, que venham outras resenhas regadas à cerveja estupidamente gelada, petiscos, muita prosa e alguma polêmica misturada ao debate acalorado. Com ou sem ressaca. De preferência, aliás, em Porto Alegre, onde, nos dias 18 e 19 de outubro será realizado o Campeonato Brasileiro Individual, com a presença de 135 botonistas dos mais tradicionais clubes do país – estarei por lá defendendo o Cruzmaltino. Agora, para pedirmos a saideira, vale citar a alcunha criada por outro grande amigo, que me ‘rebatizou’ como “o tricolor mais vascaíno do futebol de mesa no Rio de Janeiro”. Estaria ele de pileque (risos)? Garçon, passa a régua! Um brinde a todos (as). Tim-tim e saúde!

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Nascido em Nova Friburgo (RJ) em 1971, mas morando há mais de 30 anos na cidade do Rio de Janeiro, o jornalista esportivo Alysson Cardinali, com passagens pelos jornais O Fluminense, Jornal dos Sports, O Dia e Expresso (Infoglobo), revistas Placar e Invicto, além do canal SporTV, é um apaixonado não só pela profissão, mas pelo futebol de botão. Praticante da regra Dadinho, Alysson é atleta filiado à Federação de Futebol de Mesa do Rio de Janeiro (Fefumerj) e, além de disputar as competições oficiais pelo Brasil, pretende divulgar o esporte e angariar cada vez mais praticantes para perpetuar o futebol de botão entre as futuras gerações.

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cardinali@mundobotonista.com.br

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