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MUNDO BOTONISTA

Por Gustavo Martorelli (26/05/2025)

Eu não disse nada

No Brasil, dar opinião com sinceridade é quase um esporte radical. Muita gente pensa duas, três, dez vezes antes de dizer o que realmente pensa — e, na maioria das vezes, acaba ficando quieto. Mas o curioso é que essa opinião não some. Ela só dá a volta e reaparece em forma de fofoca, no cafezinho do trabalho, nos grupos de WhatsApp ou em uma conversa despretensiosa entre amigos. É como se o brasileiro tivesse medo de ser verdadeiro na frente dos outros, mas não conseguisse guardar tudo só para si. 

No nosso meio, isso também acontece. Tem assunto que vive borbulhando pelos cantos, mas quando chega a hora de encarar de frente, muita gente prefere se esconder. Falta conversa aberta, sincera e respeitosa — algo essencial para que o esporte evolua. Mas, por enquanto, fica tudo meio travado.

Muito disso vem da nossa cultura. Muita gente cresce ouvindo que bater de frente é feio, que é melhor evitar conflito e que “quem fala o que quer, ouve o que não quer”. E todo mundo quer ser bem visto, quer manter aquela imagem de pessoa tranquila e “do bem”. Então, mesmo quando algo incomoda, o mais comum é engolir a opinião para não parecer chato ou grosseiro. Só que esse silêncio cobra um preço: a frustração aparece, e em vez de resolver o problema, ela se espalha pelas beiradas.

Aí entra a fofoca — como uma “forma segura” de desabafar. O famoso “não falei nada, só comentei”. A pessoa acha que pode se expressar sem se comprometer, sem se expor. Mas é um jeito meio torto de tentar ser ouvida, e o resultado quase sempre é confusão. No trabalho, por exemplo, é muito comum. Alguém se incomoda com algo, mas em vez de conversar diretamente, desabafa com outro colega. Esse repassa para mais um... e pronto, o clima pesa. Ninguém sabe direito o que está acontecendo porque ninguém falou com quem realmente deveria ouvir.

O triste é que isso acaba desgastando relações. Tudo fica na superfície, parecendo harmonia, mas é só aparência. A fofoca, mesmo que pareça inofensiva, enfraquece a confiança. Por outro lado, a sinceridade, quando vem com respeito e empatia, pode evitar muitos problemas. Mas, claro, isso exige coragem — e prática. Afinal, a gente não foi muito ensinado a dialogar de verdade.

É óbvio que nem toda opinião precisa ser dita o tempo todo, e nem todo mundo gosta de confronto. Mas existe um meio-termo entre o silêncio e a fofoca: o espaço da conversa honesta. E talvez seja justamente aí que a gente deva investir mais. Falar com franqueza, sim — mas com cuidado, ouvindo o outro lado e tentando entender também.

No fim das contas, dar sua opinião com respeito não precisa ser algo negativo. Pode, na verdade, ser um sinal de maturidade e autenticidade. Só não vale ter uma opinião feita para agradar algo ou alguém em troca de um vintém – mas disso trataremos na próxima oportunidade.

Biblioteca de "Jogo de cavalheiros"
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Gustavo Martorelli

Gustavo Martorelli, conhecido como Guga, nascido em São Caetano do Sul (SP), é federado desde os 12 anos quando oficializou uma tradição de família. Hoje é empresário em Campinas e formado em Direito e Teologia. Passou por ABREVB, São Judas, Meninos FC e Palmeiras. Voltou a defender o Meninos FC em 2023. Morou em diversos países como África do Sul, Senegal, Gâmbia e Jordânia, trabalhando com desenvolvimento humanitário e, além do arroz e feijão, do que mais sentiu falta foi de jogar botão.

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guga@mundobotonista.com.br
(019) 99650-5605

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