Painel do Mundo

o blog do
MUNDO BOTONISTA
Tá no filó

Por Giovanni Nobile (25/05/2025)

Enquanto isso...

Hoje, na poltrona da sala, enquanto lia crônicas sobre literatura e futebol, com algumas citações sobre futebol de botão, enquanto tomava uma xícara de café, enquanto na vitrola tocava um samba, enquanto o beija-flor chegou na janela e bebericou a água do pote que eu tinha colocado mais cedo justamente para que ele viesse nos visitar, enquanto lia crônicas sobre literatura e futebol, pensei: uns anos atrás, se eu tivesse que me imaginar em um domingo feliz, seria como este momento em que estou na poltrona da sala, lendo, ouvindo, sentindo a vida em tempo presente, enquanto não penso em mais nada.

A palavra “enquanto” tem seus encantos quando indica uma relação de simultaneidade entre duas ações, como expressão de duas ações que estão ocorrendo ao mesmo tempo. E é bonito pensar que, enquanto escrevo, um beija-flor toma água, uma criança brinca, um homem volta para casa com a sacola do mercado, uma mulher passeia com o cachorro, uma onda bate numa pedra, uma tempestade desaba, um peixe nada tranquilo incólume a tudo isso, e o que será já foi, tudo ao mesmo tempo, agora.

Ao mesmo tempo, fazer duas coisas num mesmo instante não é das coisas mais saudáveis. Boa parte da sociedade atual cobra por performance, entregas simultâneas, velocidade, prazos apertados. E aí que mora um grande perigo, de sobrecarga diante das multitarefas do dia a dia, em que raramente se consegue viver o agora. Em casa, pensa nas coisas do trabalho. No trabalho, pensa na hora de sair. Quando sai, pensa no que fazer no final de semana. No final de semana, rola meia hora de feed na tela do celular. E, quando se vê, o momento presente está distante.

No meio disso tudo, a poltrona da sala é refúgio para essa reconexão com o presente. Uma conexão que a leitura de crônicas sobre futebol e literatura me traz. E quando fechei o livro que falava sobre o drible de Garrincha, o gol de Pelé, os milagres operados pelos goleiros, com alguns ganhando até nomes de santo, mesmo que as proezas de Garrincha e Pelé nunca tenham sido chamadas de milagres...

Enquanto fechei o livro, percebi que essa mesma sensação de plenitude de tempo presente existe quando se joga futebol de botão. É a concentração na jogada, a mão que está firme sobre a mesa, a condução da bolinha, a contagem dos toques, a preparação, o aviso: “pro gol!”, a olhada analítica sobre a posição do goleiro, a respiração, o chute e... tanto faz. Pode ter sido gol, pode ter ido para fora. O que importa é estar ali, concentrado, atento. Enquanto a vida passa e a gente a vive, palhetada a palhetada.

Biblioteca de "Tá no filó"
Reler publicações anteriores de Giovanni Nobile

Giovanni Nobile

Giovanni Nobile é jornalista e fundador do Águia Branca Futebol de Mesa (time que nasceu nas quadras de futsal em Santo Antônio da Platina, no Paraná, fez um jogo em 1997, ganhou, e se orgulha de ser o time há mais tempo invicto no mundo - tudo bem que nunca mais jogou, mas essa é outra história). Seu melhor resultado nas mesas foi um vice-campeonato de etapa na série extra da Liga União, cuja medalhinha tem guardada até hoje. Há mais de 10 anos, vive em Brasília. Por aqui, traz crônicas aos domingos sobre o nosso Mundo Botonista.

....................................

nobile@mundobotonista.com.br

(061) 98105-0356

Posts anteriores 
Por Giuseppe Spasiano 1 de junho de 2025
Subbuteo Planet
Por Ary Peter 30 de maio de 2025
Botão com cordel
Por Rafa Pena 29 de maio de 2025
Estrat3gia
Por Jeferson Carvalho 28 de maio de 2025
Notícias do Mundo
Mostrar mais