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MUNDO BOTONISTA

Por Marco D´Amore (21/04/2024)

Pai de ninguém

Conforme citado na coluna de estreia, a partir de agora daremos início à nossa discussão sobre como solucionar nosso problema de baixa renovação no futebol de mesa. Quero agradecer imensamente a todos os comentários sobre o texto anterior e às várias sugestões de caminhos a trilhar. Tais ideias estão arquivadas aqui comigo e mais uma vez, informo que serão conectadas em momento oportuno e serão também contempladas nos próximos artigos. Mais uma vez peço a gentileza de enviarem suas ideias nesse nosso brainstorming contínuo. Todas as luzes serão bem-vindas e somente com a junção delas iluminaremos esse nosso horizonte, que ainda está obscuro, objetivando mantê-lo resplandecente ad aeternum. Porém, agora, preciso contar a vocês uma experiência que tem dado certo em São Paulo e não custou absolutamente nada.

No início de 2022, no “fim” da pandemia, todos ainda bastante apreensivos e, ao mesmo tempo, com uma gigantesca vontade de voltar às mesas, após uma longa parada de dois anos, Flavio Moraes (atleta da categoria máster de São Sebastião) entrou em contato comigo para saber quantos moleques do TMJ (clube pelo qual atuava) jogariam aquele primeiro torneio individual da federação. Tratava-se do Pró (hoje denominado Etapa) e que, diferentemente de Open em que a disputa é aberta e mistura todas as categorias, separa Sub18, Adulto e Master, com disputas à parte. O motivo era bem simples: ele queria saber se teria quórum suficiente para justificar sair do Litoral Norte paulista para o local do evento, que seria no Meninos Futebol Clube, em São Bernardo do Campo com seus garotos do Sub18. Lá havia em torno de seis atletas e o TMJ por volta de cinco. Esses números somados já dobravam os do último torneio que, se eu não me engano, fora uma Taça São Paulo, realizada em 2019, na qual estiveram presentes apenas quatro crianças. Eu assisti ao evento para acompanhar o Léo, filho do Dile, que estava jogando, em outra sede, a mesma competição, no mesmo dia. A sede era o Palmeiras e os demais atletas eram três do próprio clube. 

Pensei então que não poderíamos repetir o mesmo erro! Era hora de arregaçar as mangas! E de imediato, já sabendo da urgência em relação a prazo e os poucos recursos disponíveis, principalmente, financeiros - calcanhar de Aquiles velho conhecido do botão - minha sugestão foi a mais simples possível - prática e “sem” custo: montar um grupo do WhatsApp com os pais e responsáveis pelos atletas inscritos. O Flavinho gostou na hora. Primeiramente, verifiquei no BID toda a lista dos Sub18 de São Paulo, que havia sido atualizada 2022. Entrei em contato com os presidentes e diretores de cada um dos clubes e expus a ideia. Todos, muito solícitos, se prontificaram a ajudar e passaram os contatos dos respectivos pais e responsáveis para que eu criasse o grupo. Posteriormente, falei com cada um deles antes da inclusão no grupo e, aos poucos, a adesão foi crescendo. Esse pontapé inicial foi mais rápido do que se imaginava e, em menos de uma semana, o grupo já tinha oito integrantes e cada um com uma média de dois atletas por responsável. Em curtíssimo tempo, já havíamos conseguido quadriplicar o número de atletas em uma tacada – digo, palhetada – só. Os propósitos fundamentais do grupo eram claros e, até hoje, é enviada como mensagem inicial a cada integrante novo que entra: reunir os atletas Sub18, convocar para os torneios, compartilhar problemas, cooperar com soluções, fazer tabelas específicas,  de acordo com cada competição e com o número de participantes.

O próximo passo era responder objetivamente  a pergunta do Flavinho que foi a origem de tudo: quantos participarão do torneio? De cara, foram confirmadas as presenças de 11 atletas. Um ainda não tinha certeza e quatro não poderiam comparecer naquela data. Enfim, logo na concepção o projeto já dava resultados surpreendentes e bem satisfatórios. O planejamento foi efetuado a várias mãos e com a ajuda da Federação Paulista, através do diretor técnico, Bruno Varoli, integrante do grupo desde o seu início - as decisões tomadas teriam um aval oficial o mais rapidamente possível. Tais pleitos são aceitos e aprovados, ou até mesmo rejeitados por questões de estatuto e o que, por vezes, muitos não concordam, devem, no mínimo, ser respeitados e as reivindicações ficam registradas para futuramente poderem ser melhoradas para se moldar de forma mais adequada à realidade da categoria. Até porque o que é bom para a categoria máster pode não ser tão bom para o Adulto tampouco para o Sub18. Cada uma tem suas peculiaridades e, na maioria das ocasiões, tais regramentos ou tentativas de padronização, por mais argumentos que tenham, impedem a realização de iniciativas um pouco mais inovadoras.

Com um planejamento muito bem elaborado, a execução ocorreu acima das expectativas e a principal meta foi até superada, com um quórum ultrapassando o programado, tivemos 12 atletas. A foto dessa crônica e até hoje a imagem de perfil do grupo de WhatasApp foi a foto tirada após a premiação. É claro que, apesar do sucesso no geral, algumas dificuldades acontecem e até servem como lição aprendida para próximos eventos. Mencionarei apenas dois: a tabela não foi feita no computador e tivemos falta de súmulas. Essas últimas feitas à mão na hora por colegas que ajudaram muito no momento da competição. Não deveria citar nomes pelo risco de estar sendo injusto e esquecer alguém, mas eu não tenho essa preocupação e a minha deselegância já é velha conhecida no meio, portanto, faço questão de citar um deles – meu grande amigo (que ajudou muito nessa parte mais burocrática na correria de momento): Flávio Marcante. Ele fez questão de preencher as súmulas e fez a ponte com a mesa organizadora. A tabela de classificação, tem uma história especial na minha vida. Um dos atletas, o Luiz Guilherme (do São Sebastião) a cada rodada queria saber quais eram os placares e a pontuação dos demais. Eu achei muito legal esse interesse dele e, apesar de que muitos julgam não ser saudável esse espírito competitivo, eu adoro. Tentei ajudar ao máximo no momento, apesar de não ter controle total, pois a tabela não estava programada para ser instantaneamente atualizada no computador, como as outras categorias. Por fim, após uma mensagem do Flavinho agradecendo a todos do grupo e informar que haviam feito boa viagem de retorno, contou que o que o tal moleque tinha questionado na estrada: “Quem é aquele cara que não é pai de ninguém?” Uma das coisas mais bacanas que já ouvi e que guardarei no coração “por toda a vida e mais 30 dias”. Enfim, mais uma da série: “Já deu tudo certo!”

E por falar em dar certo, tal grupo existe até hoje cada vez mais forte, com a plena cooperação de todos e constantemente ativo para resolver os problemas ainda presentes (e que sempre estarão - mas resiliência é a palavra chave) Inatos à categoria e desafios sempre diferentes, aos quais jamais poderíamos superar desconectados e solitários. Aproveito para agradecer aos envolvidos diretamente nessa empreitada e a todos aqueles que vêm nos apoiando, mesmo que indiretamente, dando-nos dicas valiosas sobre alguma lacuna de oportunidade não preenchida e que ainda não conseguimos enxergar. Vamos em frente! A luta continua! Já dando um spoiler para a próxima coluna, fecho essa informando que, além desse grupo paulista, já há um grupo nacional (brasileiro) formado. Mas essa é uma outra história... deixa eu molhar o bico de vocês!

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Marco Aurélio D’Amore nasceu em 1975 em Sta. Bárbara d’Oeste, é formado em Engenharia Civil, com pós em Produção, é um eterno entusiasta da Gestão de Projetos. Joga botão desde 1979 e é federado desde 2017, quando foi batizado Marco Butantã em homenagem ao Grêmio de mesmo nome. Ama o “Botonismo”, mas a briga pelo 1º lugar é boa com a Música! “Mil tons” à parte, gosta de missões bem difíceis, como apresentar o contradito e desafiar as obviedades discursivas. Como cronista da coluna "O rei está nu" Marco quer ser a voz de todos aqueles que se preocupam com a renovação do futebol de mesa em todo território nacional - divulgando as melhores iniciativas de reintegração de atletas e formação de novos adeptos.

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damore@mundobotonista.com.br

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